O Delegado Dadeu
O casal de feições italianas chegou de ônibus na rodoviária de Porto Alegre, indagaram as horas a um senhor bem trajado que respondeu - dezesseis horas – que eles custaram a entender , pois conheciam simplesmente como quatro da tarde – “Dado” aguardava os pais ansioso e nem bem desembarcaram saíram em disparada para tomar o primeiro ônibus, (táxi era muito caro), com destino ao Bairro da Azenha, onde ficava uma antiga pensão que hospedava os jovens do interior que vinham cursar a Academia da Polícia Civil.
Chegaram na casa antiga e “Dado” logo foi pedindo à dona autorização para que os pais pudessem “se lavar” e trocar de roupa, afinal a cerimônia de formatura estava marcada para iniciar às 19:00 horas e ele seria um dos novos “Investigadores” de Polícia, um cargo que posteriormente foi extinto lá pela década de oitenta, ficando a Polícia Civil formada apenas por Escrivães, Inspetores e Delegados.
Terminada a cerimônia, “Dado” convidou seus pais para comer grelhados numa churrascaria popular próxima ao Quartel do Corpo de Bombeiros e, para felicidade da família ali iniciava-se a carreira do filho que foi designado para trabalhar em diversas cidades pequenas do norte do Estado. Cidades onde existia uma Delegacia de Polícia, porém jamais houve um único Delegado no comando – no máximo aparecia algum uma vez por mês , apenas para assegurar o recebimento de um extra pela “substituição” ...
Por onde passava, portanto, o Investigador era conhecido como o “Delegado Dadeu” , que deveria chamar-se Tadeu , mas foi mais uma vítima dos velhos oficiais de registro civil – descendentes de italianos que trocavam a letra “t” pelo “d” , da mesma forma como os árabes trocam o “p” pelo “b” . Mas como um “dado” lembrava a figura de um cubo com “lados diferentes” , julgou que não seria respeitável ser conhecido pelo apelido de “Dado” , o que transformava “Dadeu” numa opção mais segura, não obstante a carga melancólica da origem do nome ...
O Delegado Dadeu colecionou ao longo de quase trinta anos de Polícia inúmeras histórias, mas como o espaço do contador de “causos” é sempre limitado, vamos aqui nos ater aos mais curiosos. O primeiro foi quando atendia num lugarejo que durante a chamada “onda de emancipações” virou município autônomo, mas cuja “cidade” não passava de uma única rua , pavimentada apenas numa linha reta de cem metros, exatamente à frente da Praça, da Igreja e da sede da Prefeitura Municipal .
Certa ocasião acamparam na cidade vigaristas que vendiam herbicidas e insumos agrícolas falsificados no Paraguay , tidos como homens ricos, aliciavam moças e faziam promessas de emprego e passaportes para a boa vida na cidade grande. “Chico do Mato”, conhecido “abigeatário” – (ladrão de gado) da região negociou com os estelionatários sua filha mais velha, “Pita”, de apenas 16 anos, num “pacote fechado” para três dias de amor, recebendo em pagamento seis notas de cinqüenta dólares norte-americanos.
Primeiro ele se exibiu bastante nas “pencas” e canchas de bocha, mostrando o dinheiro estrangeiro, mas no dia seguinte como não havia onde trocar, “Chico do Mato” necessitou viajar cento e cinqüenta quilômetros até uma cidade pólo para realizar a operação de câmbio da moeda e eis que chegando lá, foi constatada tratar-se de moeda falsa. Enfurecido ele voltou à cidade disposto a terminar com os estelionatários, mas evidentemente quando chegou não encontrou mais ninguém ...
Foi quando se deslocou para a Delegacia onde , assaltado pela fúria , “Chico do Mato” narrou a história nos mínimos detalhes , e ao final o “Delegado Dadeu” , como convém, incontinenti , deu-lhe ordem de prisão por exploração sexual de menor, colocando o vilão direto para o xadrez . O caso repercutiu tanto que nosso policial – prestigiado - foi transferido para um outro lugarejo, digamos “menos pior” ...
Nessa outra cidade, próxima de um grande centro produtor de máquinas agrícolas , havia rádio , hospital e até um pequeno centro comercial onde existiam confortos como vídeo-locadora , lotérica, banca de revistas e até um supermercado. No “super” da cidade trabalhavam dois gringos vindos da roça, muito tímidos e sensíveis. Eram “raios” de feios e com pouca sorte no amor, eles compravam revistas pornográficas e se excitavam lendo depois do expediente.
Numa ocasião a dupla depois de ler um exemplar de quadrinhos “gay” resolveu combinar um troca-troca para se realizar após o expediente, quando se deslocaram para a casa de um deles com uma dúzia de latas bem geladas de cerveja . Chegando em casa, depois de beber todas, estabeleceu-se a discussão de quem seria o primeiro a desempenhar o papel ativo, e a sorte foi decidida no par ou ímpar. O mais novo, um gringo retaco e cabeludo literalmente enrabou o mais velho e após terminar pediu para ir ao banheiro se lavar e voltar para ultimar o acordo. Só que depois de estar dentro do quarto de banho pulou a janela e fugiu pelos fundos da residência.
Seu parceiro, sentindo-se ultrajado, “cabeça de bagre” de um “estelionato sexual” , buscou a Delegacia de Polícia onde contou toda a história para o nosso “Delegado Dadeu” – O agente da Lei, contendo-se para não soltar gargalhadas , teve de fazer o registro do Boletim de Ocorrência e remeter o expediente para a Promotoria de Justiça que providenciou numa medida judicial impedindo o contato físico dos moços , diante do clima de vingança estabelecido. Dizem que dias depois ambos sumiram da cidade ...
O casal de feições italianas chegou de ônibus na rodoviária de Porto Alegre, indagaram as horas a um senhor bem trajado que respondeu - dezesseis horas – que eles custaram a entender , pois conheciam simplesmente como quatro da tarde – “Dado” aguardava os pais ansioso e nem bem desembarcaram saíram em disparada para tomar o primeiro ônibus, (táxi era muito caro), com destino ao Bairro da Azenha, onde ficava uma antiga pensão que hospedava os jovens do interior que vinham cursar a Academia da Polícia Civil.
Chegaram na casa antiga e “Dado” logo foi pedindo à dona autorização para que os pais pudessem “se lavar” e trocar de roupa, afinal a cerimônia de formatura estava marcada para iniciar às 19:00 horas e ele seria um dos novos “Investigadores” de Polícia, um cargo que posteriormente foi extinto lá pela década de oitenta, ficando a Polícia Civil formada apenas por Escrivães, Inspetores e Delegados.
Terminada a cerimônia, “Dado” convidou seus pais para comer grelhados numa churrascaria popular próxima ao Quartel do Corpo de Bombeiros e, para felicidade da família ali iniciava-se a carreira do filho que foi designado para trabalhar em diversas cidades pequenas do norte do Estado. Cidades onde existia uma Delegacia de Polícia, porém jamais houve um único Delegado no comando – no máximo aparecia algum uma vez por mês , apenas para assegurar o recebimento de um extra pela “substituição” ...
Por onde passava, portanto, o Investigador era conhecido como o “Delegado Dadeu” , que deveria chamar-se Tadeu , mas foi mais uma vítima dos velhos oficiais de registro civil – descendentes de italianos que trocavam a letra “t” pelo “d” , da mesma forma como os árabes trocam o “p” pelo “b” . Mas como um “dado” lembrava a figura de um cubo com “lados diferentes” , julgou que não seria respeitável ser conhecido pelo apelido de “Dado” , o que transformava “Dadeu” numa opção mais segura, não obstante a carga melancólica da origem do nome ...
O Delegado Dadeu colecionou ao longo de quase trinta anos de Polícia inúmeras histórias, mas como o espaço do contador de “causos” é sempre limitado, vamos aqui nos ater aos mais curiosos. O primeiro foi quando atendia num lugarejo que durante a chamada “onda de emancipações” virou município autônomo, mas cuja “cidade” não passava de uma única rua , pavimentada apenas numa linha reta de cem metros, exatamente à frente da Praça, da Igreja e da sede da Prefeitura Municipal .
Certa ocasião acamparam na cidade vigaristas que vendiam herbicidas e insumos agrícolas falsificados no Paraguay , tidos como homens ricos, aliciavam moças e faziam promessas de emprego e passaportes para a boa vida na cidade grande. “Chico do Mato”, conhecido “abigeatário” – (ladrão de gado) da região negociou com os estelionatários sua filha mais velha, “Pita”, de apenas 16 anos, num “pacote fechado” para três dias de amor, recebendo em pagamento seis notas de cinqüenta dólares norte-americanos.
Primeiro ele se exibiu bastante nas “pencas” e canchas de bocha, mostrando o dinheiro estrangeiro, mas no dia seguinte como não havia onde trocar, “Chico do Mato” necessitou viajar cento e cinqüenta quilômetros até uma cidade pólo para realizar a operação de câmbio da moeda e eis que chegando lá, foi constatada tratar-se de moeda falsa. Enfurecido ele voltou à cidade disposto a terminar com os estelionatários, mas evidentemente quando chegou não encontrou mais ninguém ...
Foi quando se deslocou para a Delegacia onde , assaltado pela fúria , “Chico do Mato” narrou a história nos mínimos detalhes , e ao final o “Delegado Dadeu” , como convém, incontinenti , deu-lhe ordem de prisão por exploração sexual de menor, colocando o vilão direto para o xadrez . O caso repercutiu tanto que nosso policial – prestigiado - foi transferido para um outro lugarejo, digamos “menos pior” ...
Nessa outra cidade, próxima de um grande centro produtor de máquinas agrícolas , havia rádio , hospital e até um pequeno centro comercial onde existiam confortos como vídeo-locadora , lotérica, banca de revistas e até um supermercado. No “super” da cidade trabalhavam dois gringos vindos da roça, muito tímidos e sensíveis. Eram “raios” de feios e com pouca sorte no amor, eles compravam revistas pornográficas e se excitavam lendo depois do expediente.
Numa ocasião a dupla depois de ler um exemplar de quadrinhos “gay” resolveu combinar um troca-troca para se realizar após o expediente, quando se deslocaram para a casa de um deles com uma dúzia de latas bem geladas de cerveja . Chegando em casa, depois de beber todas, estabeleceu-se a discussão de quem seria o primeiro a desempenhar o papel ativo, e a sorte foi decidida no par ou ímpar. O mais novo, um gringo retaco e cabeludo literalmente enrabou o mais velho e após terminar pediu para ir ao banheiro se lavar e voltar para ultimar o acordo. Só que depois de estar dentro do quarto de banho pulou a janela e fugiu pelos fundos da residência.
Seu parceiro, sentindo-se ultrajado, “cabeça de bagre” de um “estelionato sexual” , buscou a Delegacia de Polícia onde contou toda a história para o nosso “Delegado Dadeu” – O agente da Lei, contendo-se para não soltar gargalhadas , teve de fazer o registro do Boletim de Ocorrência e remeter o expediente para a Promotoria de Justiça que providenciou numa medida judicial impedindo o contato físico dos moços , diante do clima de vingança estabelecido. Dizem que dias depois ambos sumiram da cidade ...
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