R O U P A G E M
No primeiro verso
de tiro curto
Rasgo a tira
de uma fina seda
Fiapo legado
de impreciso corte
Só um pedaço
de pano em surto
Até porque a peça
Se inteira é fugaz
A força da mão
decreta a morte
E num outro verso
o fio se desenrola
Sem o modista
o pano é sem sorte
Costuro só os retalhos
Sobras da paz
Bem pude aprender
que qualquer fio enreda
E vestes de luxo
atraem o furto
Raso fim do poema
para roupa de porte
TIRETA CANDENTE
Não mais
acredito
No encanto
de estrelas
Cadentes
No entanto
Aclarado à luz
de velas
Suo descrentes
calores
No mais
Agora
sempre repito
Incandescentes
Ideias
Recipiendário
Nem sempre desejou
Tampouco pediu
Mas eis que recebeu
Não protestou
Nem mesmo balançou
Tampouco faliu
Mas olhou para o céu
E então reclamou ...
Calendário
Viver é como viajar
Pelas caixas do calendário
Como se encaixar
Em dias ditos úteis
Ou em inúteis vias
De papéis de formulário
Não é simples contagem
Nem uma mera estatística
É um vai-e-vem
Da jornada fantástica
Correria e desvantagem
Onde sempre se tem
Números para superar
E um feriado no obituário
INCONCLUSÃO
Em que lugar do grão armário
Estará guardada a última linha
Que conclui o libelo prescrito
Talvez nem seja ponta d´espinha
De um texto que não foi escrito
É incompleto, é vazio e temerário
Verso parido por aluno primário
Que no sexto ainda não detinha
A chave que dá o acesso restrito
Talvez incesto de vocábulo áureo
Alfabeto frio de moço de rinha
Briga inconclusa de outro distrito