quarta-feira, junho 30, 2010


Aritmética
Esquece a geometria,
olvida-te da álgebra
São inúteis em teu ofício
de garimpar sonhos
O gosto do arquiteto
não adere à tua obra
Foge do engenheiro
de seus exatos cálculos
Pois tua poesia
prescinde d´outras variáveis
A monumental obra
com seu contorno obtuso
A dura estabilidade
eqüilátera do triângulo
Faz exatidão odiosa
que só te deixa confuso
Nada há de ciência
nos versos sem ângulo
Sim, é certo que a aritmética
produz bens incontáveis
Teus poemas, ao contrário,
não se medem
Nunca serão engendrados
por frios notáveis
Para tê-los a ciência
jaz e espera por um alguém

sábado, junho 19, 2010


Cartas de Agosto

Aquelas cartas de agosto
Nunca foram escritas
Eram letras enforcadas

Presas na grande garrafa
E no gargalo do desgosto
Morreram elas constritas

Desordenadas e sem posto

Elas jamais foram postadas

domingo, junho 13, 2010

Frio de Inverno
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Noites longas e frias
De história aclamada
invadem meus dias
A porta do albergue
Exige ser fechada
Há uma lenha morta
queimando na lareira

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E um perfume de fogo
Traz calor enclausurado
O ar gelado lá fora
Vai trilhando suas vias
Como a sombra fugida
Na curva sempre torta
Sendo coada na peneira
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Sob o brilho das três Marias
Sopra um vento molhado
É o inverno escuro parindo
suas mudas manias
Moldando nossas vidas
Na restrição de sua porta
Reinando à sua maneira
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