quarta-feira, setembro 16, 2015

Palhaços Marrons




Oráculo de lágrimas
Fui ao sepulcro dos sons
Garimpar gargalhadas

Na tumba de velas velhas
Vi imagens descoloridas
E sombras das lástimas

Eram palhaços marrons
Com as alegrias passadas
A exalar risadas póstumas

quinta-feira, julho 16, 2015

O vento e as flores

Quando o vento procura o furo
É porque não gosta de obstáculos
Precisa levar o aroma das rosas
Que ele viu florescer
Para o além das linhas do muro
Necessita abrir os seus tentáculos
Dar sementes para outras covas
E depois vê-las nascer
Ainda que em ambiente escuro
Ele promove vistosos espetáculos
Afaga maciamente as flores vivas
Porque elas vão morrer


quarta-feira, julho 01, 2015

Soneto a um porco

Corte nobre de pernil defumado
Infeliz parte do suíno sacrificado
Mesa farta de abastado comensal
Delícia para um jantar sofisticado

Será tudo perdoado, tudo normal
Far-se-á a ceia com retalhos do corpo
É da cadeia alimentar esse fim fatal
Pois afinal  ,  era só um pobre porco

Depois, o  afago no perfumado gato
Para ele só o carinho e muito amor
Pois é bicho mimoso alheio ao prato

E no outro lado, na direção do mato
Ladram cachorros guardiães da flor
Ávidos pelos restos do porco ingrato

sábado, abril 04, 2015


Irrelevância


Sinto profundamente
Mas vou te dizer
Entendo teu levante
Tua revolução
Que é justa

Teu sonho de fazer
Da terra o firmamento
O bem levado avante
É a tua devoção
Que é justa

Mas logo ali há o poder
E tua voz é irrelevante
Não causa comoção
Diz a força rudemente
Que é justa

Tua idéia só é relevante
No âmago do teu ser
Que é de bom coração
E repete mecanicamente

Que é justa

segunda-feira, março 16, 2015

Sobre tua dor


Respinga em mim a tua dor
Latejando em silêncio
Nas profundezas invisíveis
De alguma parte incolor
Inaudita e inabitável
Do meu ser
Queria ver ao menos a flor
Única sobrevivente
Do jardim oculto do ontem
Com seu aroma indolor
E o resíduo de alguma cor
Para se ver
Mas tua dor pinga e respinga
Em palavras indizíveis
Que ao longe ecoam
Enquanto busco respostas
Na utopia intocável
Do não ter ...