Os “percisos”
Por : IVAN CEZAR INEU CHAVES
O “Jardim Maiami” foi criação do último Prefeito da dinastia dos Sanrey que dominam a política na cidade de Pedregulhos, a 700 quilômetros de Porto Alegre, dizem ser o mais distante município do Rio Grande do Sul e também um dos mais pobres, com intenso êxodo rural e uma quantidade muito grande de desocupados na periferia da urbe.
A população do Jardim Maiami era muito variada, mas predominavam desempregados, bandidos, diaristas , que no caso das mulheres eram faxineiras e dos homens eram “chapas” que acampavam à beira da rodovia à espera dos caminhões para descarregar no comércio local. Mas a Vila era comandada por um percentual muito significativo de bandidos, numa variação que ia do larápio barato ao traficante mais perigoso.
Evidentemente, que numa diversidade dessas não faltavam as putas , sendo crível que onde há essa antiga profissional, existe como conseqüência lógica a figura sempre intrigante do gigolô e é exatamente aqui que encontramos o personagem central de nossa história – O “Dente de Ouro” , que ganhara esse apelido graças a um incisivo obturado com uma mistura de metal dourado, que os dentistas chamavam de “amalgama” e que brilhava , mas não passava disso mesmo, ou seja, uma mistura de metais nada nobres.
Dente de Ouro mantinha sob seu domínio pelo menos três daquelas vagabundas, as quais distribuía por pontos específicos de Pedregulhos à caça de “clientes”, sempre ponderando que era necessário variar no investimento: “uma na estrada – outra na praça central e uma na zona” , assim não perde nunca, quando vai mal uma a outra compensa. Solteirão, Dente de Ouro buscava dar um atendimento especial a cada uma de suas “operárias” , correndo por toda Maiami a fama dele como exímio “chupador” , detentor de uma língua felina que trafegava por todas as “partes” de suas ninfas profissionais.
Certa ocasião, apareceu uma moça da Vila Maiami embarrigada e dizendo que a cria era dele – do Dente de Ouro – que prontamente se preocupou em negar e a atribuir para a donzela tantos amantes quantos os de suas ninfetas. O caso foi parar no Fórum de Pedregulhos, numa época em que ainda não existia o exame de DNA e as ações de Investigação de Paternidade dependiam muito da prova por testemunhas. Divilaine, uma das putas , agilmente conseguiu uma testemunha para auxiliar a seu gigolô – tratava-se de Dona Matildia , uma cafetina aposentada .
Audiência marcada, Matildia sentou-se à frente do Juiz, jurou dizer a verdade sobre tudo o que sabia e lhe fosse perguntado , acrescentando – “Deus me livre Doto, só digo o que sei” e se pôs a falar sobre todas as experiências sexuais da pobre moça na Vila , até que o Juiz advertiu, “não quero saber sobre os casos passados dessa moça, o que lhe pergunto é se a senhora sabe se o cidadão aqui sentado é ou não é o pai da criança” , ao que ela respondeu categoricamente – Não, não é !!
E como é que a senhora pode afirmar isso ? – indagou o Magistrado, ao que ela respondeu – porque o “Dente de Ouro” não tem os “percisos” , falando assim nesses precisos termos ...
O Juiz, num exercício de profissionalismo, tentando clarear a situação passou a insistir com a mulher para que ela esclarecesse o que seriam os “percisos”, ganhando a audiência , neste momento, tons de uma trágica comédia. E a mulher sempre insistindo – “Ele não pode ser não, o pai da cria – ele não tem os percisos” , até que o Juiz lhe deu o ultimato : - “Dona Matildia esclareça o que são os “percisos” ou terei que determinar sua prisão” ... A audiência encerrou-se com o Juiz transpirando e uma cara vermelha incendiando de raiva – ao exclamar da mulher repetindo a seguinte frase – “Ah não Dotô um homi veio que nem o sinhô vai mi dizê que não sabe o que qui são os percisos” ...
Um comentário:
Oi Ivan, que bom que aderiu ao blog, é isso aí, assim a gente se liberta um pouco dos sites onde de repente não concorda com as questões impostas goela abaixo, rs.
Certamente aqui vamos no ler mais. Beijo carinhoso, gostei de ler vc aqui e de saber um pouco mais d vc.
Postar um comentário