IVAN CEZAR INEU CHAVES , Brasileiro, natural de São Sepé/RS Advogado, formado em 1987 pela Faculdade de Direito de Bagé Morou e estudou no Uruguai Foi Procurador do Município de Sant´Ana do Livramento Presidente da Subseção da OAB de São Sepé Presidente da APAE de São Sepé Presidente da SER IGUAÇú de São Sepé Tem trabalhos literários publicados nos sites OVERMUNDO e RECANTO DAS LETRAS e inúmeras crônicas jurídicas veiculadas nos sites JUSBRASIL e ESPAÇO VITAL
sexta-feira, março 22, 2013
CRÔNICAS DE FAMÍLIA – A LATA DE PÃO
Já perdi a conta de quantos textos escrevi manifestando-me contrário à cultura do consumo que traz consigo como companheiro inseparável o conceito do descarte. Comprar , usar , trocar e descartar , uma sequencia destruidora e – não se enganem – os danos não são apenas materiais , pois não só se estão exaurindo os recursos naturais do planeta, mas e sobretudo, exaure-se muito da essência humana . Nossa espécie é pó e ao pó voltará ...
O lar onde fui criado foi berço de muitos valores e folgo dizer que as mais doces recordações da infância estão atreladas a objetos de uma simplicidade que certamente este relato e sua conclusão contaria com o aval de São Francisco de Assis. Tudo em nossa casa era simples e, por consequência, nós éramos pessoas simples e – penso – continuamos ainda nesse mesmo patamar.
É evidente que nossas vidas mudaram e tanto minha irmã Isane quanto eu nos adaptamos ao estilo de vida comum aos profissionais liberais e, por óbvio , nosso dia-a-dia nem de longe recorda o cotidiano vivido naqueles idos anos das décadas de sessenta e setenta. Ao mesmo tempo essa nova realidade nem remotamente se presta para mitigar a saudade daquele tempo que enclausurou os mais puros e mais ternos momentos de nossas biografias.
Uma dessas lembranças que jamais me sai da memória é a Lata do Pão, que eu grafo em letras maiúsculas para que a simplicidade da coisa não guarde nenhuma proporção com a magnitude do sentimento vertido na lembrança . A Dona América – nossa amada e adorável mãe – guardava o pão numa lata que ficava num canto da cozinha escondido atrás da porta. Nunca entendi porquê a mãe escolheu aquele lugar ...
A lata era apropriada para o fim, pois naquele tempo a indústria de “galletitas” da Marca “Famosa” da cidade uruguaia de Paysandú acondicionava as bolachinhas (galletitas em espanhol) em latas que possuíam um visor de vidro redondo e uma tampa do mesmo formato que permitia acondicionar o alimento com muita higiene e segurança.
Quando desejávamos cortar uma fatia de pão, invariavelmente tínhamos de abrir a gaveta antes e pegar uma faca, pois só assim era possível abrir a tampa da lata . Pois graças aos recursos da internet um dia desses encontrei uma imagem de uma lata idêntica àquela que servia de depósito para o pão que nos sustentou na infância . Então recuperei e avivei as lembranças e decidi pelo texto .
Mais um texto que exalta nosso passado simples – valorosamente simples – que sob o compasso e o ritmo de corações sensíveis e de bons propósitos , ainda nos fazem entender que com muito orgulho, de certa forma , ainda continuamos a buscar o pão de cada dia na velha Lata de Pão preservada atrás da porta do tempo ...
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