sexta-feira, março 26, 2010



Herança

Da série de poemas " DE ONDE SOU "


Sobre minha terra
e meu lugar
Poderia nenhuma linha
escrever
Contudo estaria no vazio
a sepultar
Toda a potência
do meu ser
Germinada neste chão
de além-mar

A inércia produz sempre
poesia sem raiz
E , se me entendem ,
não existe
Poema órfão,
nem poeta sem País
Não cultuar o passado
é coisa triste
Que traz vergonha
aos ancestrais

Por isso é que escrevo
tantos versos
Poemas em madeira bruta
sem tinta ou verniz
Que retratem minha
tenra origem
E então deixo para
os mais moços
Esta muda herança
da longa viagem

domingo, março 14, 2010


V I A G E M
Pensas viver
no planeta marte
Te faz infeliz
Um lar permanente
E a ânsia de andar
é o teu estandarte
Pois um trem vai partir
já para o oriente
Não tenhas medo,
embarca e parte !
Despede-te dos teus
com o olhar sorridente
Verás já o feito
da mão que fez arte
Se o possível retorno
te traz noite delirante
Não te preocupes !
a seu devido tempo
Voltarás n´uma nau
que vem do ocidente

quarta-feira, março 10, 2010


SONETO À FILHA

Que tu, minha filha, sejas assim
Sempre uma pessoa inteira
Mas presa a um ser intangível
Que andes no perímetro de mim

****

E que ainda plena e verdadeira
Fujas da linha do impossível
Sem ouvir os parâmetros do fim
Nem temer a inefável besteira

***

Que debeles o arco do invisível
E na aventura azul vestida de brim
Faças dos sonhos a arma certeira

***

Que tu , minha filha, venças assim
Sem receio aos mitos do invencível
Ou ao paredão humano da geleira

sábado, março 06, 2010


Monarquia

Extrair magia e poema
no reino das palavras
Por certo é uma tarefa
Ora difícil , ora sublime
Porque o acesso é restrito
às almas sinceras
O tesouro é intangível
e imune ao crime
oooOOooo
No império dos versos
as jóias são singelas
A monarquia se assenta
em trono de vime
Riquezas são obtidas
em encantadas querelas
A paz da poesia
cala a voz que oprime
oooOOooo
Pois o poeta é sensível
ao choro das favelas
Seus versos são o tal
calcanhar do regime
No reino do poema
não cabem outras lavras
E nesta alquimia
não há intruso que arrime

terça-feira, março 02, 2010


IMPLICAÇÕES JURÍDICAS DO RELATO
DE KURT SONNENFELD


Creio que o Livro “EL PERSEGUIDO” – publicado pela Editora Planeta de Buenos Aires – ainda não foi traduzido para o português , mas tive a felicidade de ler a obra, que é um relato do próprio autor Kurt Sonnenfeld, envolvendo sua participação nos episódios imediatamente posteriores ao atentado das Torres Gêmeas , em Nova York.

Kurt Sonnenfeld , cidadão americano , era agente da FEMA , (Federal Emergency Management Agency), uma agência do governo dos EUA que age em situações de catástrofes , documentando e investigando os eventos causados por ação da natureza ou mesmo humana . Os agentes da FEMA, portanto, convivem com as demais instituições do estado, tais como o FBI e a CIA no cenário pós sinistros.

Foi nessa condição de agente estatal que Kurt Sonnenfeld documentou todo o cenário de destruição do World Trade Center, e foi justamente devido a essa sua participação nos acontecimentos que foram deflagradas uma série de situações que literalmente implodiram sua vida , inclusive privando-o da liberdade e culminando com sua atual condição de asilado político , refugiado em Buenos Aires onde vive com sua a esposa argentina que conheceu após sair dos EUA.

Mas o que chama a atenção no relato do livro “EL PERSEGUIDO” é a fragilidade institucional em que se viu jogado esse cidadão que após o suicídio de sua primeira esposa também americana, foi acusado de homicídio contra todas as evidências de prova que apontavam cabalmente para suicídio. Mesmo tratando-se de um importante agente da FEMA, estranhamente conta o autor que foi abandonado ao cárcere e só conseguiu a liberdade depois que seus advogados provaram perante um Juiz americano a fragilidade das acusações que desprezavam, entre outras provas, o exame residual de pólvora na mão da própria vítima além de uma carta de despedida, onde anunciava a intenção suicida.

Revogada a prisão, emocionalmente liquidado, o homem viajou para a Argentina onde lhe foi oferecido descanso num imóvel no famoso balneário de Mar del Plata , propriedade de pessoas alinhadas à família, a fim de que pudesse se recuperar dos traumas da prisão injusta e reencontrar o equilíbrio que lhe fora subtraído.

Já em solo argentino conheceu e se apaixonou por uma jovem portenha , com a qual resolveu casar e não mais retornar para os EUA , tamanho o trauma que lhe restou do contexto. Contudo, mesmo depois de ter sido liberado pela Justiça de seu próprio País, foi um dia detido pela Interpol e jogado ao cárcere na Argentina por solicitação do governo dos EUA que pedia sua extradição, como que rasgando todas as provas que sua defesa já havia logrado produzir.

Numa trama de espionagem e de conspiração que deixa o leitor perplexo, Kurt Sonnenfeld teve de se submeter a mais alguns meses de desgastante prisão na Argentina, até que um Juiz Federal de Buenos Aires resistindo a toda a pressão e barganha dos EUA negou o pedido de extradição , reconhecendo que o homem corria até mesmo sério e iminente risco de morte.

A motivação para toda a perseguição é revelada no Livro EL PERSEGUIDO e deixa o leitor perplexo, pois induz à conclusões claras de que muita informação foi sonegada ou manipulada à opinião pública no episódio do atentado contra as torres gêmeas e , pior do que isso , acena para a possibilidade de que arquivos secretos depositados em escritórios governamentais situados no complexo haviam sido esvaziados antes dos ataques, o que foi documentado por Kurt Sonnenfeld, inaugurando uma implacável caça ao ex-agente.

Muito mais que um relato cinematográfico e traumático, o livro “EL PERSEGUIDO” revela uma fragilidade jurídica monumental , posto que no País que se intitula como a maior democracia do mundo e detentora de um Judiciário confiável e eficaz , a narrativa de Kurt Sonnenfeld permite a qualquer operador do direito sentir calafrios diante da intolerável interferência do “estado” num processo criminal , forjando indiciamento injusto e prisão arbitrária , além de uma perseguição internacional a um inocente. Recomendo a leitura – realmente bombástica !