terça-feira, dezembro 29, 2009


UMA VEZ
Lembrava uma incerta vez
há muito tempo ...
Quando vigorava o desprezo
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Não se mediam belas horas
Ela vivia intensamente
Ausente o intrometido talvez
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Tudo era muito mais lento
E o censor estava preso
Em suas massificadas gaiolas
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Vivendo nua e mansamente
No vasto projeto que fez
Flertava com a face do vento
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Ergueu uma fortaleza em toras
Imune ao ataque do ciumento
Que (soberbo) esperava sua vez ...
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terça-feira, dezembro 15, 2009

(imagem da web)

Mentirosa

Mentirosa não é só a palavra
Grafada na inércia do papel
Cuspida à boca dissimulada
ooOOoo
Mesmo se abortada em larva
Mentirosa é a mão do dossel
Afago malicioso que estorva
ooOOoo
Dedo indicador da emboscada
ooOOoo
Mentirosa é a voz presa ao anel
ooOOoo

terça-feira, dezembro 08, 2009


Este poema resultou de um fato da vida real. Da minha vida. Foi no tempo em que meu pai estava asilado no Uruguay . Acordei com a surpresa daquele brinquedo maravilhoso. Mas no dia seguinte viajamos e esquecí o brinquedo num táxi ... Virou poema !
Helicóptero de Natal

Num tempo d´outrora, um natal da infância
Debaixo da cama acordou-me um presente
Helicóptero de plástico, tão logo perdido
Remoto descuido, de um dezembro distante
oooOOooo

O natal se foi no táxi de um desconhecido
Brinquedo nunca esquecido guardado latente
Papai Noel para o alheio e o piá entristecido
Nos outros natais a nave voou novamente
oooOOooo

Acordando a criança que me fêz um aguerrido
Sempre lembro d´ele de um jeito irreverente
O artefato voador acorda um pirralho atrevido
Ainda à espera de um dezembro menos carente

sexta-feira, dezembro 04, 2009


Versos mudos

Perguntam porquê
meus poemas são mudos
Intriga o fato d´eles provocarem
Tantas estranhas reações
Confunde-se a ação da poesia
na alma alheia
Eles, porém, não tem,
Por favor entendam !
jamais terão, voz própria ...

Versos não falam , nem gritam,
sequer murmuram
Poderão ganhar vida,
desde que sejam aceitos
Já dizia Drummond
Dentro da simples
e total iniciativa da leitura
Terão sua vitória
quando arrancarem lágrimas

Quando capazes de produzir
Ao menos um momento intenso
E no rugir do tigre de Borges
Fizerem-se cúmplices
na hora da gostosa solidão
Companheiros de uma viagem
sem movimento
Cantados por uma voz pura
atingirão sua plenitude

Neste estágio serão úteis
na construção de vidas
Transformados em ferramentas
para despertar os sonhos
Tal catavento de Quintana
Meus versos aí estarão
cumprindo sua missão !
Mas vivos na letra fria,
seguirão sempre mudos.